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[Softonic Entrevista] “Os serviços de armazenamento online são omissos e sempre botam a culpa no usuário”, diz especialista

[Softonic Entrevista] “Os serviços de armazenamento online são omissos e sempre botam a culpa no usuário”, diz especialista
Rui Maciel

Rui Maciel

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Consultor em Inovação Digital e Professor-doutor em Comunicação Digital da ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo), Luli Radfahrer também já foi diretor de algumas das principais agências de publicidade do Brasil e é um dos maiores especialistas em Computação na Nuvem (Cloud Computing) da América Latina.

Sendo um expert no assunto – inclusive com o livro Enciclopédia da Nuvem publicado pela Editora Elsevier -, Radfahrer bateu um papo esclarecedor com o Softonic sobre o episódio que envolveu o vazamento de fotos íntimas de artistas de Hollywood há alguma semanas. E em sua análise do caso, ele não poupou ninguém: a Apple, a omissão das empresas que oferecem serviços de armazenamento em nuvem, e também os maus hábitos do usuário desse tipo de serviço.

Confira a entrevista logo abaixo:

Softonic – O vazamento das fotos das atrizes de Hollywood mostra que o usuário ainda não entendeu muito bem como funciona o armazenamento em nuvem?

Luli Radfahrer: Acho que o problema maior é a forma como os serviços em nuvem – seja ele da Apple, do Google, da Microsoft ou outros – são oferecidos ao usuário final. Para começar, em muitos casos, eles são “oferecidos” à pessoa de forma compulsória, sem que ela tenha pedido por eles ou entenda direito como eles funcionam. Em muitos casos, quando você vai ver, o upload das suas imagens, por exemplo, já foi feito em algum serviço de nuvem, automaticamente. E você nem notou.

E dentro desse processo, há dois problemas ainda mais graves: nenhum serviço de armazenamento na nuvem oferece um sistema realmente seguro para você guardar seus dados. E o pior: eles não se responsabilizam por nada do que venha a acontecer com suas informações. Veja esse caso da Apple e das celebridades. A empresa simplesmente se limitou a dizer que não ocorreu nenhum tipo de falha no iCloud e todo mundo concordou, ninguém questionou nada. Eles disseram que foi um “ataque direcionado” a essas pessoas, elas deram azar e ficou por isso mesmo.

Configuração de sincronia de arquivos do iCloud é uma tela esquecida

Softonic – Alguns especialistas em segurança dizem que fotos íntimas e outros documentos confidenciais não devem ser armazenados na nuvem de forma alguma, e sim, em discos físicos. O senhor concorda com essa opinião?

Luli Radfahrer: Não concordo. Se a empresa oferece um serviço de armazenamento de dados, ela deve se responsabilizar também pela sua segurança. Culpar apenas o consumidor é muito fácil e cômodo para elas. Se o banco em que você tem conta não garante a segurança do dinheiro que você deposita lá todos os meses, você simplesmente tira o seu dinheiro de lá, certo?

Ou usando um outro exemplo: quando você para seu carro num estacionamento de shopping, sempre encontra avisos pedindo para que você não deixe objetos de valor no automóvel, já que o shopping não se responsabiliza por eventuais roubos. Ora, se as empresas que oferecem serviços de armazenamento na nuvem não querem se responsabilizar pela segurança dos dados, ao menos deixem claro ao usuário que seu sistema de proteção não é dos mais confiáveis e que ele evite guardar dados sensíveis em seus servidores. Seria muito mais honesto. Mas nenhuma delas faz isso.

Softonic – E esse episódio com as atrizes pode atrasar uma maior adoção do armazenamento na nuvem?

Luli Radfahrer: Infelizmente não vai acontecer, mas deveria. Isso poderia travar um pouco o progresso desse tipo de serviço, mas tenho certeza que ele voltaria muito mais sólido. Assim que as empresas sentissem no bolso, elas seriam obrigadas a lançar um serviço de armazenamento em nuvem muito mais seguro. O bug do milênio, por exemplo, causou uma paranoia generalizada, mas fez com que bancos e empresas de e-commerce, entre outras, investissem mais em segurança e se tornassem muito mais confiáveis.

Softonic – Qual o maior perigo para o usuário comum quando falamos no armazenamento em nuvem: engenharia social, hackers explorando bugs em autenticações ou senhas fáceis?

Luli Radfahrer: Acho que o maior perigo reside na pirataria. Explico: praticar um jailbreak no seu smartphone, levar seu PC ou tablet naquela assistência técnica não-autorizada, fazer um download clandestino ou comprar um software pirata é hackear a si mesmo. É aquela economia burra que muita gente faz e abre a brecha para instalar um código malicioso no seu dispositivo. A partir daí, para roubarem seus dados bancários ou sua senha do serviço de armazenamento na nuvem é um pulo. E esse roubo de dados causado pela pirataria acontece com muito mais frequência do que um golpe via phishing, por exemplo, ou o clicar em um link desconhecido num e-mail.

Softonic – Onde o usuário comum erra na hora de armazenar seus dados na nuvem?

Luli Radfahrer: O maior problema é a senha. Na maioria das vezes, as pessoas sempre escolhem senhas fáceis de descobrir. As empresas não são como a sua mãe. Se elas te aconselham criar uma senha com números, letras e caracteres especiais e você não segue a recomendação delas, azar o seu. Eles não podem ficar vigiando você 24 horas por dia. As pessoas sempre acabam escolhendo datas de aniversário, nome do cachorro, nome do ídolo e por aí vai. Fica fácil de burlar. É como você ter um carro blindado e ser assaltado porque estava com a janela aberta. É estúpido. Por mais que seja chato de lembrar, as pessoas precisam criar uma senha segura, que dificulte a vida dos criminosos. Se elas acham complicado de lembrar, usem um gerenciador de senhas, que é superfácil de manusear.

Senhas simples são fáceis de burlar e uma mão na roda para os hackers

Softonic – Na sua opinião, qual a forma mais segura de armazenar arquivos na nuvem?

LR: Antes de mais nada, faça uma boa pesquisa para verificar qual serviço de armazenamento online é o mais confiável. Verifique a reputação do programa junto aos seus usuários, cheque na imprensa se há muitos casos de vazamento de dados ou hackeamentos. É como escolher um banco onde você vai deixar seu dinheiro ou um hotel no qual vai se hospedar.

Depois, crie uma senha forte, com letras maiúsculas e minúsculas, números, caracteres especiais. Por fim, evite os serviços de nuvem grátis, que sempre se eximem de qualquer responsabilidade, já que não estão cobram nada. Se os serviços pagos já são perigosamente omissos, imagine os que são de graça.

[Imagens: divulgação]

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